domingo, 29 de junho de 2008

Sou eu.

Perdoa-me a frontalidade. Perdoa-me as palavras (de amor?) que profiro sobre ti às minhas paredes. Não ligues à minha expressão estremecida quando trocamos confidências. Perdoa-me por te adorar com o olhar e conduzir-te até ao fundo de mim. Quero que venhas, quero ter-te. Preciso de ti como tu do poema. Quero provar-te o segredo que guardas no peito. Quero seduzir a tua pele com a minha, num momento em que eu e tu deixamos de ser almas separadas. Vive em mim, estende o tapete vermelho e deixa-me correr até ti. Não tenhas medo do que podemos ser. Deixa que te toque o peito com o cabelo, deixa-me sorver-te o cheiro até que me fiques bem entranhado. Escuta o que tilinta cá dentro e tenta perceber o remoinho que acontece quando te aproximas de mim. Dá-me esse sorriso cheio de meiguice e doçura de criança, eu tomo conta de ti. Vem enroscar-te em mim, qual gato a ronronar de mimo, sabedor da sua destreza. Vem e funde a tua mão com a minha. Fica e deixa-te levar por mim.
Perdoa-me a frontalidade: sou apaixonada por ti.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

És tu.

Deixo aqui estas linhas sem qualquer inspiração por perto. Só me apraz escrevinhar o teu nome no meu coração, durante horas incansáveis, com cores garridas e permanentes. Sonho com a tua vinda em todos os sóis e luas da semana, praguejando a cada momento que não te tenho aqui. És simples de se gostar. És o espelho que me deixa bonita, és o jeito do meu andar, pequenino mas confiante, na rua onde já mais ninguém importa. És o sol da minha praia ao poente e és o cheiro a maresia na minha pele. És a porta para o melhor de mim, és o vidro da janela que beijo quando ouso brincar de criança. És o meu riso, és o meu esgar, és o meu olhar maroto. És o texto e o poema, que se fundem na tímida frase de um amor crescente. És a partilha, és a sapiência, és a cura dos meus dias. És a minha pessoa noutro ser e noutra alma. És tu a coragem, és tu a música que me acalma e adormece. És tu, quando sorrio, e és tu, só tu, que vens ao meu caminho.
És tudo o que preciso, agora e aqui.


(A ti, J., porque és tu.)

terça-feira, 24 de junho de 2008

O meu 'ni'.

Há qualquer coisa a bater mais forte do que aquelas badaladas matinais. Oito, nove, dez, diz o relógio de corda. Boa!, pensa, o despertador adormeceu de novo. Espreguiça a vontade de ficar ali e pede licença às pálpebras para encarar o tecto. Lá está ele outra vez. Ri e troça daquele quadro, como quem não aceita a malandrice que ainda se enrosca no corpo da mulher. Ela desvia o olhar e sorri para dentro. Não bastava sonhar contigo... quiseste mais. Levanta a almofada, apoia os pés na cama e afunda as mãos nos cabelos negros da nuca. Tenta amarrar a razão aos suspiros que a consomem. Leva as mãos ao rosto na esperança de despertar para a realidade daquela manhã. Esquadrinha as fronteiras e as linhas desenhadas na pele e imagina-as tocadas pelas mãos daquele sorriso. Sente a chama arder-lhe o peito e ouve as batidas que não pertencem ao relógio. Levanta-se e avança descalça no chão arrefecido pelas orvalhadas da altura.
Ninguém, como tu, me fizera querer
Ir à procura de um sopro no vento…
Vê os versos escritos nos espelhos da casa, sente o tom de voz em qualquer música de amor e apaixona-se pelo leve sotaque que prendeu na memória. É abraçada pela saudade que a empurra para o desalento, mas logo a esperança vem e a sustém. Abre a gaveta, veste-se de azul e voa para o oásis da expressão que acalenta as suas madrugadas... Não quero partir, diz. Leva-me contigo.

sábado, 21 de junho de 2008

A culpa é tua.

Percorres os jardins cansados do meu coração. A relva deixou de ser viçosa e as flores murcharam faz meia dúzia de primaveras. Estou presa na masmorra do passado - e tu sabes. Mesmo assim, recolhes-me com doçura e encanto, sem pedir sê minha. Mas parte de mim é - e tu sabes. Soubeste soltar a criança que dormia em mim, num quarto fechado, com a esperança de um dia poder voltar a brincar. Dedicas-te a parar o tempo e a levar o meu sorriso pela mão, na passadeira de sonhos que pintaste no teu futuro. Aquele que converge no meu - e tu sabes. Escreves para mim a melodia das estrelas e dás-lhe o brilho que ilumina a minha noite. Noto-te no olhar imagens que me queres dar a viver, contigo. Deixas-me ler-te um quê de desejo, nesses lábios sedentos de alguma coisa; uma ténue vontade de me pegar e fazer de mim a tua menina. Mas não, não sabes. Como, quando ou mesmo se. Mas eu quero e faço pretensão de saber. Vamos?

terça-feira, 10 de junho de 2008

Desdita promessa.

Vens colar-te a mim, ou vou eu buscar-te? Começo a achar que o meu jeito de mel não é fascínio para a tua colmeia. Pegas-me com descontracção e eu alinho. O chão que me tiraste dos pés foi para longe e, desde então, apenas calco terreno da tua propriedade. Brincas comigo como quem joga ao berlinde, sem francamente te importares com as pancadas que dou. Vês problema na equação mais simples, mas pudera, matemática nunca foi teu forte. Sei que gostarias que te salvasse da solidão que construíste. No entanto, sou eu que preciso ser salva da garra de paixão com que me fazes tua, no momento em que cruzas os teus lábios nos meus. Prometo acordar-te todas as manhãs com um sorriso; até sirvo o almoço a horas e faço o teu prato preferido ao jantar. Mas, por favor, diz-me que vais lá estar quando me aproximar da cama, nas trevas dos meus inconsoláveis lençóis, que não descansam até à tua chegada.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Caçador de Sóis.

Incendiaste os meus sentidos quando chegaste até mim. Voámos na mesma direcção e o encontro foi um acaso. Fui desconhecida por horas ligeiras, porque logo soubeste descobrir-me. O teu calor, ainda que longe, foi posto calmamente à minha disposição e, sem que percebesses, brilhaste para mim. Sereno e delicado, com sonetos à hora do lobo e opiniões fundamentadas. Tanto e tão pouco, que encantaste. Fiz-te meu caçador e tu vieste. Não te conheço o sorriso nem a expressão tímida, ainda que os sinta em cada frase tua. Não sei o tom da tua pele nem tão pouco pude tocá-la. Mas consegues arrepiar a minha quando escreves para mim. Vives no meu pensamento como uma imagem bonita, legendada com palavras melódicas que enternecem. Tenho para ti um sorriso que me floresce no momento em que invades as minhas horas. Não sabes, mas tenho. E um dia, vais conhecê-lo.