sábado, 25 de agosto de 2007

Tempo.

Já pensei em tudo. Quer dizer, quase.
Podia dar-lhe algumas facadas, estrangulá-lo com arame farpado, arrancar-lhe as unhas das mãos com alfinetes, depilá-lo com cera a 100 ºC, morder-lhe os lábios até sangrar, furar-lhe o tímpano com um florete, cortar-lhe os pulsos com uma rebarbadora, passar-lhe a ferro a roupa vestida, castrá-lo sem anestesia, rodar-lhe a cabeça 360º, espalhar-lhe super cola 3 pelo corpo todo, lavar-lhe os olhos com diluente, encher-lhe a casa com CO e enterrá-lo ainda vivo.


Mas... Não, que isso dói pouco... :)

Para nosso bem, vou guardar as minhas sádicas tensões no baú das inutilidades e esperar... Esperar-te. Dar lugar de destaque na minha vida a este tempo que, por enquanto, nos separa. E aproveitar a força das saudades que sinto para regular a minha sanidade mental.
Porque, afinal, é por ti que me vou apaixonar, depois de todo este tempo passar.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

"Pérolas" do passado.

Tenho andado a arrumar as tralhas cá de "casa". Pensando bem, no último ano tornei-me numa bela dona de casa. Mas não uma qualquer, claro.
Não morro de amores por swiffers ou aspiradores, mas teimo em arrastar o pó comigo. Incrível, costumo ser alérgica (orgulhosa), mas desta vez foi como se me sentisse bem com aquelas ténues partículas suspensas no ar, detestáveis pelos mais inteligentes. Durante muito tempo, usei panos velhos e desperdícios para afugentar aquele inimigo. De cada vez que o fazia, sentia-o entranhado em mim, vinha de mansinho parar a todas as mucosas e eu, inocente, lá entornava outra lágrima contagiada por toda aquela miudeza. Tive esperanças de que me habituasse, afinal já não lhe podia fugir. As suas sementes, qual cancro, floresciam com rápida eficácia, faziam-me prisioneira do meu próprio carácter. Onde fui parar? Onde está a mulher decidida que conheço? Não sabia. Morria a cada dia que passava, morria perante aquela coisa pequena e insignificante... aos olhos de todos. De todos, menos de mim própria, também esses estavam desfocados.
Hoje, até consigo rir ao ler estas linhas. Como fraquejei ao tentar exterminar aquele ácaro que me visitava todas as noites e me incendiava com aquela alergia!
Hoje, com casa nova e aspirador topo de gama, o pó só aparece de vez em quando. Mas, agora, com Claritine (ou paixão por mim e pela vida, se lhe quiserem chamar assim), passa logo. Ou quase.

Noite fresca de Verão.

Sentindo aquela voz lacrada no ouvido, toca a saudade. Compõe a almofada. Abre os olhos e encara o tecto. Esta não é uma boa noite para curas de sono, disso não restam dúvidas. Sente-se engolida no vazio daquele quarto. Fecha os olhos e só vê aquele sorriso. Ok, paredes brancas, pensa em paredes brancas. As pessoas normais estão habituados à história dos carneirinhos, ela não. Gosta de ser diferente.
Muda de posição. Põe-se a divagar em assuntos insípidos, talvez assim encontre o sono. Mas ali está ele, a olhá-la, sorriso maroto, expressão satisfeita. Conhece o seu significado, era como se a tivesse visto mil vezes. Encostado a uma esquina de uma parede branca, avança na sua direcção. Ela, tímida à sua maneira, desvia o olhar, manda-lhe um sorriso entusiasmado. Atenta aos seus passos, quase sente aquela mão delgada percorrendo a parede como se fosse a própria pele. Ele vem, devagar, confiante, atrevido até... Sabe como intimidá-la! Ela percebe e mostra-se forte. Na verdade, ambos sabem o fervilhar de emoções que o outro sente, quase se ouvem corações a quererem saltar fora do peito. Agora mais perto, aquele sorriso malandro esconde-se numa expressão mais séria. Olha-a nos olhos, deixa-a desarmada, cativa, seduzida. Era como se tivesse entrado e se apoderado da sua alma. Toca-lhe. Tamborila cada dedo nos lábios vermelhos de desejo. Sente a respiração arfada, dá um risinho de prazer, como adora dominar os seus sentimentos! A avidez com que se beijaram naquele momento fê-la agarrar a almofada com força. Acorda. Leva tempo a perceber, mas finalmente, encontra-se outra vez no quarto inóspito. Deseja tê-lo abraçado, demorar mais aquele sonho. Sorri e adormece profundamente, tem a certeza de que o vai fazer, um dia.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Agosto impreciso.

O dia morre, a areia esfria, o céu entristece o seu azul. Confundem-se resquícios de Verão com o eriçar de pêlos esquecidos pela brisa já tardia. Olha o mar, infinito na sua beleza. Rugindo qual Neptuno esvairado, marca presença na tarde que viria a mudar vidas. A praia fica deserta em poucos momentos. Olhares que procuram alento, baixos e confusos, arrumam na gaveta a esperança para o dia seguinte. Pessoas que sorriem, cabelos esvoaçantes e mãos entrelaçadas. Há as que ficam no seu lugar, preguiçando à hora do poente, nem felizes nem tristes. É a debandada de sentimentos, naquela praia.
Ela fica. Pertence à camada entediante da juventude, adora o luar e flores, aprecia uma boa tarde de Verão só com os seus pensamentos. Consegue ignorar os olhares que a rodeiam, não permite que qualquer alma se aproxime do seu coração. Ninguém saberá chegar até ele, pensa. Desvia o olhar para o céu. Será sempre assim? Está feliz, mas não está. Sente-se incompreendida, mente a si própria sobre o seu bem-estar, tenta sorrir para dentro... mas não convence. Aceita que se sente sozinha. Olha o mar, inebriante. Ninguém saberá falar-lhe melhor do que a própria mágoa. Não soltará suspiros por ninguém, ponto assente. Decide retomar forças para ir embora. Só aquele mar vale a pena um olhar mais atento. Não quer olhar para dentro de ninguém. Nem vai. Durante muito tempo. Está decidida. A sua nova paixão é o mar.
Sorri perante aqueles pensamentos, que coisa mais patética, pensa. Mas a força com que se sente comove-a. Agora sim, vamos andar para a frente. Sem tropeçar em ninguém. Sim, é isso! Ajeita o cabelo, em vão. Bolas, maldito vento. Avança na paliçada, passo decidido e olhar confiante. Soubesse ela o que a esperava, na tarde seguinte...