terça-feira, 4 de setembro de 2007

Indefinições.

Sentada a escrever, a noite parece mais adulta do que o relógio diz. Tentou decidir por qual sentimento se ia apaixonar hoje, mas tudo é incerto e enevoado. Não existe música que a embale, nem a mais triste daquela lista. Sente a boca salgada e rapidamente molha o top que traz vestido. Olha à volta e vê-se rodeada de objectos inúteis e pessoas estranhas. Arrasta o corpo consigo, tenta encontrar a alma, mas já não está ali. Olha para cima, procurando algum tipo de abrigo, mas lembra-se da fé que, um dia, deixou partir sem despedida. Sorri e deixa-se cair na cama já desfeita. Sabia que ia acontecer. Mas não se compadece. É de ideias fixas. Aquele efeito placebo já foi chão que deu uvas. Agora a força partia dela e da sorte dos dias que sucediam.
Procurou o lençol e a almofada e aninhou-se na sombra, perto do relógio que passaria a bomba dali a uns dias. Faltava-lhe saber se seria ou não salva pelo destino. E era isso que tanto a magoava, ali, naquele quarto onde ninguém podia fazer-lhe mal. Só o tempo e a espera.

2 comentários:

Anónimo disse...
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Anónimo disse...

«E era isso que tanto a magoava, ali, naquele quarto onde ninguém podia fazer-lhe mal. Só o tempo e a espera.»

Em meu quarto havia quem me magoasse, magoava todas as noites, magoava-me cada minuto acordado, cada minuto para adormecer podia ser mais um minuto de dor ou o último minuto antes de adormecer... esse esperado minuto.
Quem não vive em guerra consigo próprio, quem pode estar no seu quarto sem ninguém lhe fazer mal, quem pode esperar o sonho em paz... não sabe a sorte que trás.