Não caibo em mim de saudade tua. Soubesses tu o poço que me engole... Deixarias o café arrefecido na mesa e a ponta do cigarro a morrer, perdida num fumo não degustado. Mas a cafeína não é companheira tua e fumar é coisa que não suportas. Na verdade, bastava largares o teu mundo e mudares as trouxas para o meu. Tento aprisionar-te com o lápis nas minhas palavras, tento despir-me de ti, grito contigo, falo de mansa, imploro-te... Tu devolves-me um rosto tranquilo e compreensivo, abraças-me como quem pede mais uns minutos pungentes de vida sem ti e prometes-me não ser apenas ilusão. Pelo menos, é assim que te imagino aí desse lado... Com vontade de saltar da cadeira, correr para o fosso que me separa do teu reino e nadar até mim. Não deixes que me afogue no mar de medos que, de quando em vez, sobe maré e me alcança os pés. Vem ser o condimento que falta ao meu Verão. Sem ti, o sal do mar que me protege fica em cais desconhecido; sem ti, não sei flutuar nesta onda de paixão furtiva que me levou o coração para o teu porto.
Eu sei que não somos iguais, que não somos areia da mesma praia, que não temos a mesma chuva a cair sobre nós, que não vemos a luz da mesma posição... Sei, também, que a minha história não começou no teu livro de poemas e eu, a tua, não sei contar. Ainda assim, pousa a tua mão direita em cima da minha; as duas vão conseguir escrever a nossa.
Eu e tu, tu e eu, nós seremos muito mais que um acaso. Sempre.