O frio faz mal ao coração. Lembro-me das noites tristes de Inverno em que tecias longas considerações sobre a chama da tua lareira. Eu, neste recanto sombrio a pedir pelo teu calor, e tu com enorme deleite, a tirar proveito das labaredas desse sítio. Lembro-me de te desenhar cruel e sádico no meu pensamento, mas hoje acho que te levava demasiado a sério. Tantas vezes que o silêncio falou mais alto, com medo de ser esquecido. Tantas as palavras levadas por chuvas outonais, como aquela que faz desta noite um pedaço de gelo, de tão fria e desamparada que me deixa. Pudesses tu adivinhar-me nessa altura, em que calava o carinho e a doçura com que podia ter-te envolvido, para dar lugar à amargura e ao desatino a que estavas habituado. Não acho que tenhas sido paciente, mas também… Provavelmente, ninguém seria. Menina insatisfeita e mimada, nada era suficiente, não era o que dizias? Enfurecia em três tempos, com a esperança de ver algum sentimento no teu olhar. Fui cega pela insegurança. A crença de poder continuar não subsistiu.
Hoje, aqui, colada ao corpo que deixaste de ver, num ambiente quente de lume rejuvenescido do último Natal, escrevo palavras que nunca te direi. Soa a cliché, eu sei, mas fica o desejo de ser eventual mentira.
O frio traz horas à lareira. Traz sensação de palavras entaladas na garganta.
O frio mói e molesta, sem dó nem cautela.
Sem ti, o frio invade e refreia a minha chama. Não a que arde por ti. A da minha vida.
Hoje, aqui, colada ao corpo que deixaste de ver, num ambiente quente de lume rejuvenescido do último Natal, escrevo palavras que nunca te direi. Soa a cliché, eu sei, mas fica o desejo de ser eventual mentira.
O frio traz horas à lareira. Traz sensação de palavras entaladas na garganta.
O frio mói e molesta, sem dó nem cautela.
Sem ti, o frio invade e refreia a minha chama. Não a que arde por ti. A da minha vida.
30, Novembro de 2008